quinta-feira, abril 25, 2024
Ocorreu recente como nunca antes.
AOS ARTISTAS
“O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair em desespero. A beleza, como a verdade, traz alegria ao coração dos homens; é esse fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração”.
Concílio Vaticano II em sua Mensagem aos Artistas, 1965.
MENOS
Fez que não me viu fez-se de tola
a quem ajudei entrou de fininho
cabelos grisalhos em desalinho
rede bancária fiz-me de bobo
meu amigo é como me chama
sabe de mais ou sabe de menos
a chama o desejo a cama
mais não dei dei-lhe menos
«A ode cristalina / é a que se faz sem poeta.» (Carlos Drummond de Andrade) *
Sabei isto, meus amados irmãos: Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para se irar. Tiago 1:19
quarta-feira, abril 24, 2024
AS RETICÊNCIAS
eles e elas descasados
olhares tristes desilusão
em volta à sala levou o irmão
a ver se achava uma joia rara
todos muito desconfiados
era cedo a ceder confidências
sem mão na mão dava vontade
de chorar mágoas e as reticências?
Salvador
Este tal de WhatsApp eu não forneço às musas elas que descubram as nuas aspirações às escancaras
De Cabo Frio noites escuras dormem seres atoleimados pelo tóxico pela fome ao desamparo rica de fama, cidade impura
Salvador
Estou a avisar às musas que volto nas noites de junho poema feito a punho em dia de saudade confusa.
Sereias de Cabo Frio enganam o homem apaixonado sem piedade ele coitado geme à toa nas noites de estio
Tomás Antônio Gonzaga. Soneto
Vinicius de Moraes A legião dos Úrias
Vinicius de Moraes
A legião dos Úrias
Quando a meia-noite surge nas estradas vertiginosas das montanhas
Uns após os outros, beirando os grotões enluarados sobre cavalos lívidos
Passam os olhos brilhantes de rostos invisíveis na noite
Que fixam o vento gelado sem estremecimento.
São os prisioneiros da Lua. Às vezes, se a tempestade
Apaga no céu a languidez imóvel da grande princesa
Dizem os camponeses ouvir os uivos tétricos e distantes
Dos Cavaleiros Úrias que pingam sangue das partes amaldiçoadas.
São os escravos da Lua. Vieram também de ventos brancos e puros
Tiveram também olhos azuis e cachos louros sobre a fronte . . .
Mas um dia a grande princesa os fez enlouquecidos, e eles foram escurecendo
Em muitos ventres que eram também brancos mas que eram impuros.
E desde então nas noites claras eles aparecem
Sobre os cavalos lívidos que conhecem todos os caminhos
E vão pelas fazendas arrancando o sexo das meninas e das mães sozinhas
E das éguas e das vacas que dormem afastadas dos machos fortes.
Aos olhos das velhas paralíticas murchadas que esperam a morte noturna
Eles descobrem solenemente as netas e as filhas deliqüescentes
E com garras fortes arrancam do último pano os nervos flácidos e abertos
Que em suas unhas agudas vivem ainda longas palpitações de sangue.
Depois amontoam a presa sangrenta sob a luz pálida da deusa
E acendem fogueiras brancas de onde se erguem chamas desconhecidas e [fumos
Que vão ferir as narinas trêmulas dos adolescentes adormecidos
Que acordam inquietos nas cidades sentindo náuseas e convulsões mornas.
E então, após colherem as vibrações de leitos fremindo distantes
E os rinchos de animais seminando no solo endurecido
Eles erguem cantos à grande princesa crispada no alto
E voltam silenciosos para as regiões selvagens onde vagam.
Volta a Legião dos Úrias pelos caminhos enluarados
Uns após os outros, somente os olhos negros sobre cavalos lívidos
Deles foge o abutre que conhece todas as carniças
E a hiena que já provou de todos os cadáveres.
São eles que deixam dentro do espaço emocionado
O estranho fluido todo feito de plácidas lembranças
Que traz às donzelas imagens suaves de outras donzelas
Que traz aos meninos figuras formosas de outros meninos.
São eles que fazem penetrar nos lares adormecidos
Onde o novilúnio tomba como um olhar desatinado
O incenso perturbador das rubras vísceras queimadas
Que traz à irmã o corpo mais forte da outra irmã.
São eles que abrem os olhos inexperientes e inquietos
Das crianças apenas lançadas no regaço do mundo
Para o sangue misterioso esquecido em panos amontoados
Onde ainda brilha o rubro olhar implacável da grande princesa.
Não há anátema para a Legião dos Cavaleiros Úrias
Passa o inevitável onde passam os Cavaleiros Úrias
Por que a fatalidade dos Cavaleiros Úrias?
Por que, por que os Cavaleiros Úrias?
Oh, se a tempestade boiasse eternamente no céu trágico
Oh, se fossem apagados os raios da louca estéril
Oh, se o sangue pingado do desespero dos Cavaleiros Úrias
Afogasse toda a região amaldiçoada!
Seria talvez belo — seria apenas o sofrimento do amor puro
Seria o pranto correndo dos olhos de todos os jovens
Mas a legião dos Úrias está espiando a altura imóvel
Fechai as portas, fechai as janelas, fechai-vos meninas!
Eles virão, uns após os outros, os olhos brilhando no escuro
Fixando a lua gelada sem estremecimento
Chegarão os Úrias, beirando os grotões enluarados sobre cavalos lívidos
Quando a meia-noite surgir nas estradas vertiginosas das montanhas.
Salvador
«É preciso estar sempre embriagado. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.» (Charles Baudelaire)
Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios. Salmos 103:2
Qualquer sereia impede a vocação natural do macho
terça-feira, abril 23, 2024
Tom Jobim - Trem De Ferro
ABSINTO
mulher não te quero mais
ver-te ouvir-te abraçar-te
por ti já sofri demais
agora é ir-me, cansei tua arte
foi a mim seduzir de início sincera
foste a minha lua, a ilusão
de ter-te pra sempre sem pressa
agora copo de absinto à mão
Pra que tanto desejo em vão?
«Nenhuma presença é mais real que a falta.» (Myriam Fraga) *
O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Salmos 23:1
segunda-feira, abril 22, 2024
Salvador
Blog do Charles Fonseca: O trem. Charles Fonseca
Curso de Metafísica Aula 03, INTRODUÇÃO À METAFÍSICA - Parte II
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. João 4:23
domingo, abril 21, 2024
ALIGEIRADAMENTE
Como tenho só quatro pessoas com quem conversar em casa, na prática três, uso a Internet como forma de sair da solidão. Os valores são muito diversificados: políticos, de escolaridade, sexuais e espirituais. Todos nos respeitamos nas suas singularidades. A cumeeira da casa é a de 95 anos. Sem esta não sei como será... Na verdade tenho horas de conversa que ainda não chegaram ao seu momento de virem a lume. Assim, fique a vontade de ler aligeiradamente o que escrevo. Escrevo para pessoas imaginárias, quase todas.
EIS PINDORAMA
Meu poema é tapa buraco da alma sem amor que ansia plena
O PRÓXIMO
E então éramos cinco
Ibicui a verde mata
depois sertão o sol tinindo
Jequié mais um, que graça!
Já em Feira um infortúnio
um restou beira caminho
voltam os cinco a tomar prumo
quem será de nós sozinho
a partir para o além
desta vida o estraçalho
sobre si terra cascalho
quem de nós quem, quem?
Augusto dos Anjos A esmola de Dulce
Augusto dos Anjos |
A esmola de Dulce Ao Alfredo A. E todo o dia eu vou como um perdido E ela fita-me, o olhar enlanguescido, Morre-me a voz, e eu gemo o último harpejo, Depois, como este beijo me consola! |
Salvador
«Ri-se da cicatriz quem nunca foi ferido.» (Shakespeare) *
Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função, assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos outros. Romanos 12:4-5
sábado, abril 20, 2024
ACADÊMICO
Não desapareci. É que estou em viagem. A saudade é dor pungente. A saudade mata a gente. Quando voltar um abraço em mim. Não é querer demais. É só querer um mínimo. Um cheiro um mimo. O coração palpita demais.
SERTÃO
Passeio na orla de Copacabana. A cada instante uma infração de tráfego. De ônibus, de pedestres. Difícil. Pelas calçadas aqui e acolá jovens dormindo o sol a pino pelas calçadas. Quero voltar para o sertão.
Nestas tuas ruas a paixão desnuda o caminhar assustado eu viajor imberbe das delícias do amor, em aprendizado a alma muda
Salvador
Hilda Hilst Prelúdios-intensos para os desmemoriados do amor
Hilda Hilst
Prelúdios-intensos para os desmemoriados do amor
I
Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.
II
Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.
Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.
Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
(...)
Caetano Veloso - Tropicalia
«Como vencer o oceano / se é livre a navegação / mas proibido fazer barcos?» (Carlos Drummond de Andrade) *
Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão. Êxodo 20:7
sexta-feira, abril 19, 2024
Casimiro de Abreu Desejo
Casimiro de Abreu
Desejo
Se eu soubesse que no mundo
Existia um coração,
Que só' por mim palpitasse
De amor em terna expansão;
Do peito calara as mágoas,
Bem feliz eu era então!
Se essa mulher fosse linda
Como os anjos lindos são,
Se tivesse quinze anos,
Se fosse rosa em botão,
Se inda brincasse inocente
Descuidosa no gazão;
Se tivesse a tez morena,
Os olhos com expressão,
Negros, negros, que matassem,
Que morressem de paixão,
Impondo sempre tiranos
Um jugo de sedução;
Se as tranças fossem escuras,
Lá castanhas é que não,
E que caíssem formosas
Ao sopro da viração,
Sobre uns ombros torneados,
Em amável confusão;
Se a fronte pura e serena
Brilhasse d'inspiração,
Se o tronco fosse flexível
Como a rama do chorão,
Se tivesse os lábios rubros,
Pé pequeno e linda mão;
Se a voz fosse harmoniosa
Como d'harpa a vibração,
Suave como a da rola
Que geme na solidão,
Apaixonada e sentida
Como do bardo a canção;
E se o peito lhe ondulasse
Em suave ondulação,
Ocultando em brancas vestes
Na mais branda comoção
Tesouros de seios virgens,
Dois pomos de tentação;
E se essa mulher formosa
Que me aparece em visão,
Possuísse uma alma ardente,
Fosse de amor um vulcão;
Por ela tudo daria...
— A vida, o céu, a razão!
Cecília Meireles Serenata
Cecília Meireles
Serenata
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.
Porque tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para com todos os que te invocam. Salmos 86:5
quinta-feira, abril 18, 2024
Depois de vários lustros ao fim os bloqueei. Ao velho e bom telefone me procurem não mais os procurar hei.
quarta-feira, abril 17, 2024
Dei adeus a duas ilusões: depois de anos de espera em vão assim não sofro mais pendurado à madeira vera.
Vinicius de Moraes Marcha de quarta-feira de cinzas
Vinicius de Moraes
Marcha de quarta-feira de cinzas
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou.
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri, se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor.
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade...
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar.
Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe...
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz.
Adélia Prado Casamento
|
Salvador
Uma autoestima aumentada proposta um grande glúteo Senhor dos desgraçados que útero pariu asneira deslavada?
Salvador
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. João 4:23
terça-feira, abril 16, 2024
João Boa Morte Cabra Marcado para Morrer. Ferreira Goulart
Essa guerra do Nordeste
não mata quem é doutor.
Não mata dono de engenho,
só mata cabra da peste,
só mata o trabalhador.
O dono de engenho engorda,
vira logo senador.
Não faz um ano que os homens
que trabalham na fazenda
do Coronel Benedito
tiveram com ele atrito
devido ao preço da venda.
O preço do ano passado
já era baixo e no entanto
o coronel não quis dar
o novo preço ajustado.
João e seus companheiros
não gostaram da proeza:
se o novo preço não dava
para garantir a mesa,
aceitar preço mais baixo
já era muita fraqueza.
"Não vamos voltar atrás.
Precisamos de dinheiro.
Se o coronel não quer dar mais,
vendemos nosso produto
para outro fazendeiro."
Com o coronel foram ter.
Mas quando comunicaram
que a outro iam vender
o cereal que plantaram,
o coronel respondeu:
"Ainda está pra nascer
um cabra pra fazer isso.
Aquele que se atrever
pode rezar, vai morrer,
vai tomar chá de sumiço".
segunda-feira, abril 15, 2024
Tg 5:16 Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.
domingo, abril 14, 2024
Hoje 95 pelo documento 94 D. Carmita a minha sogra a minha segunda mãe esta sim no peito guardo entrou pra sempre na minha história.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. Salmos 23:4
sábado, abril 13, 2024
Lá se foram já dez anos a mim foi dito não tem jeito agora creio o tempo é estreito para por susto ela dizer te amo
AUTOPSICOGRAFIA. Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.